segunda-feira, 22 de agosto de 2011

ARTE E SAÚDE

Paulo Barreto Campello Mello[1]

Pintura, música, teatro e outras formas de arte são armas poderosas para a medicina. Ajudam o corpo a produzir substâncias que relaxam, acalmam e alegram, melhorando a capacidade do organismo de se defender das doenças e de combatê-las, quando já instaladas. Por isso, tente incluir alguma manifestação artística no seu cotidiano. É um “remédio”, você vai ver.

         Segunda-feira, 10 horas. Da entrada dos hospitais e clínicas especializadas às alas internas, grafites enfeitam paredes.  Os cordéis do médico gastroenterologista Wilson Freire (48) ensinam saúde e também cidadania: “Não deixe que a terra coma/ O que ainda de vida têm/ Por isso doe os seus órgãos/ Pra que eles vivam em alguém.” Nas maternidades, gestantes ouvem as suas músicas preferidas antes e durante o parto.  É a celebração da vida. Ao som de Vivaldi (1678-1741) e Mozart (1756-1791), bebês são acolhidos no berçário.  Embalados pelas composições suaves, dormem melhor e a amamentação é facilitada; os prematuros precisam de menos remédios.  É o som da vida. No “castelo” – a escolinha de arte do complexo hospitalar – crianças com doenças graves, como câncer e problemas cardíacos, fazem toda sorte de reinações artísticas: música, teatro, dança, capoeira, maracatu, pintura, fotografia.  Nos leitos, outras escutam contos de fadas e criam as próprias histórias.  Ao mesmo tempo, médicos músicos e seus convidados percorrem enfermarias, serviços e corredores, tocando e maravilhando. É uma terra encantada de esperança que se alastra pelas salas de aula.  Nelas, futuros profissionais de saúde aprendem que a arte pode – e deve! – ser usada como terapêutica e na humanização da medicina.
         Conto de fadas? Ficção? Futurologia? Nada disso.  É o programa que criamos há 12 anos na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE): “ A arte na medicina às vezes cura, de vez em quando alivia, mas sempre consola.”  São dez projetos que já beneficiaram cerca de 30 mil pacientes de hospitais universitários e da rede SUS e demonstraram que a arte é arma poderosa no tratamento e prevenção de doenças.
         Se você duvida, experimente.  Inclua no seu cotidiano algum tipo de manifestação artística.  Pode ser literatura, poesia, música, canto, dança, escultura, pintura, fotografia ou o que gostar mais.  Depois, envie-me um e-mail contando o resultado.  Ah, você prefere apenas admirar? Tudo bem. A saúde também lucrará.
         Está comprovado cientificamente que a arte promove saúde de várias maneiras:
·        Estimula a produção de anticorpos que fortalecem nossas defesas contra ataques de vírus, bactérias e fungos nocivos ao organismo.  Ajuda, assim, a combater infecções instaladas e a evitar novas.
·        Leva ao cérebro a estimular a fabricação de substâncias que acalmam. Alegram e relaxam.
·        Funciona como ponte entre as emoções e nosso corpo, pois o cérebro “caminha” no organismo.  Sob o sofrimento, pode ir à pele, causando doenças dermatológicas, ou ao estômago, provocando úlceras e gastrites, ou, ainda, ao coração, levando a "batedeiras”.  Por meio da arte é possível revelar essas conexões.
·        Ajuda na recuperação motora de pacientes que tiveram, por exemplo, derrame. Dedilhar um teclado funciona tanto quanto movimentar cem vezes o dedo.  E, para quem precisa de fisioterapia de vias respiratórias, tocar flauta ou pífano resulta tão eficiente quanto insuflar luvas.  A diferença é que o tratamento com instrumentos fica mais prazeroso. E pessoas felizes recuperam-se mais rapidamente.

Portanto, mesmo que a sua saúde esteja ótima, dedique-se a uma atividade artística com a qual se identifique. Pratique ou aprecie.  Se tem filhos estimule-os.  Deixe a arte entrar nas suas veias. É a minha receita da vida. Prescrevo aos meus pacientes, recomendo a todas as pessoas. Dê-se esse presente.
*Artigo retirado da Revista Caras*




[1] Paulo Barreto Campello de Mello (52), médico com pós-graduação em Clínica médica e pneumologia, é professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE) e vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina e Arte. Co-autor do livro “A Receita da Vida – A Arte na Medicina (Edupe)”, integra a Orquestra de Médicos do Recife. E-mail: artenamedicina@fcm.upe.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário