sexta-feira, 15 de março de 2013

Para refletir...

A PARÁBOLA DO FARISEU E DO PUBLICANO E O COREÓGRAFO AMOROSO

Subiram duas artistas ao morro:
Trabalhar com dança numa ONG?
Era dever, era viver, era socorro...
Lá, onde o medo se esconde.

Uma era bailarina clássica.
A outra, da dança do ventre.
A primeira, se pôs a orar
Temendo algum incidente:

“- Senhor, graças por não ser
Como as pessoas que aqui moram
Que não respeitam tuas leis,
Adúlteros que traficam e roubam.

Nem ser bailarina vulgar
Como esta que aqui vejo,
Que ao invés de trazer cultura,
Apenas trará molejo.

Não apenas vou dar aulas,
Darei as roupas, as sapatilhas,
Mesmo que aqui não mereçam
Esses rebentos das quadrilhas.”

A dançarina que tinha
O rosto sulcado por lutas
Viu que a outra orava,
Mas não tinha acesso a escuta...

E começou assim dizendo:
“- Senhor, somente aprendi,
Só tenho este pobre talento...
Que farei voltando aqui?

Aqui fui abandonada
Por um marido cruel
Que me deixou maltratada
Com a filha que é meu céu.

Fui dançar para sustentá-la.
Passava as noites sem vê-la.
Enquanto ela sonhava,
Eu dançava sob as estrelas...

Nunca me prostituí
Mas, confesso, balancei.
As ofertas foram muitas,
As necessidades também.

Era o leite, o aluguel,
O material escolar,
A roupa, a luz, o farnel,
Os remédios - todo o lar.

Sei, sou uma pecadora,
Não vivo num santo ambiente;
Mas será que nem por isso,
Posso servir minha gente?”
...

Uma algazarra se fez
As meninas, em revoada,
Dividiram-se agarrando
As professoras amadas...

O coreógrafo que conduzia
O Projeto de Street Dance
Era o diretor de tudo -
Um coração diferente.

Chamando as duas colegas
Voluntárias que chegaram
Levou-as a sua sala
E brevemente conversaram.

-“Agradeço, por atenderem,
Prontamente o nosso anúncio.
Há muitas aves sem ninho,
Sejamos um ninho no mundo.”

Olhou para a bailarina,
E falou-lhe docilmente:
-“Seu colo pode ser ninho
Aberto a muita gente”.

Ela recordou que havia
Sacrificado a maternidade.
O ballet muito exigira
Do corpo e da liberdade!

Foi quando brotou a lágrima
Que rapidamente saltou
Sem tempo para escondê-la...
A blusa a revelou.

A dançarina cabisbaixa,
Incerta do seu valor,
Foi perguntar se era aceita
Pelo dócil diretor.

- “Não me pergunte isto,
Não se rebaixe ou exalte,
Somos todos servidores...
Que nosso servir nos marque

Com um colorido intenso,
Com uma alegria profunda,
Que iguais nos irmanemos,
Como quem ama e comunga.”

***
E a bailarina domando
As pontas de seu orgulho
Foi preenchendo o vazio
Com crianças, com barulho...

Até que um dia adentrou
A aula da dançarina
E disse: “- O ventre é sagrado,
Gerou todas as nossas meninas...

Quero homenageá-lo,
Aprendendo a movê-lo
Aplaudi-lo em sua humildade
De gerar a vida em segredo.”

E fez sua primeira aula
Junto com a meninada.
Na fala do diretor sábio:
- Saíra, dali, justificada.

Jaime Togores
CE Seara do Amor
Santos - SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário